Quem disse que não há alternativa?

Ponta Delgada, 17 de Setembro de 2012
Quem
disse que não há alternativa?
Alguns “Opinion
Makers” fazem da “inevitabilidade” uma espécie de bloqueador psicológico que
impede o debate sobre possíveis soluções para debelar a Crise Financeira, fora
do cânone estabelecido. Evitando falar dos responsáveis e das causas que a
provocaram, apresentam-na invariavelmente como um fenómeno cíclico, natural no
contexto do sistema da Economia de Mercado. E não é bem assim. Trata-se na
verdade de um PROCESSO para alcançar objetivos antecipadamente planeados, quer
no plano Económico, quer no Político.
A Politica de
Austeridade que vem sendo adotada, sob o pretexto de termos de honrar “custe o
que custar” o “Memorando da Troika”, tem marca registada. Trata-se da receita
de Milton Friedman, pai do Neoliberalismo. Para este Economista que fez escola
em Chicago, a “liberdade” dos mercados (leia-se, desregulação) está acima de
tudo é a pedra de toque do Crescimento Económico, que não significa
necessariamente Desenvolvimento Social. Há países com uma alta taxa de
crescimento e, no entanto, o povo continua a viver na miséria… Veja-se, por
exemplo, os casos da China, da India e de Angola.
Para os boys de
Chicago, que em nossa praça “são mais que as moscas”, os Governos devem
desmontar o Estado Social, para criar oportunidades de negócio ao Capital
Privado, e desaparecer… É o tal Estado mínimo… Todavia, sempre que haja uma
crise sistémica, como agora aconteceu, deve socorrer incondicionalmente os
mercados… nem que a vaca tussa…
Paul Krugman, Economista
norte-americano laureado com o Nobel da Economia de 2008, na sua mais recente
obra, “Acabem com esta Crise, já!”, aponta o caminho oposto ao que os nossos
Governantes têm seguido. Defende uma espécie de New Deal para acabar com a
Recessão Económica, sublinhando que os atuais Decisores Políticos muito
ganhariam se aprendessem com as lições do Passado, nomeadamente no que se
refere ao Crash de Wall Street, em 1929.
Uma das causas
que está na origem da Crise Financeira iniciada em 2008, foi sem dúvida permitir-se
que os “Mercados Financeiros” voltassem a funcionar à rédea solta… tal como
aconteceu até às vésperas da Grande Depressão de 1929, nos USA. A supervisão
dos Bancos Centrais e as Agências de Regulação foram ineficazes face à
especulação criativa dos Bancos de Investimento, em que se destacou, por
exemplo, um Goldman Sachs, e os Governos, por sua vez, confiados na autorregulação
da “mãozinha invisível” de Adam Smith, descansaram na espreguiçadeira do
Neoliberalismo… E foi o que deu… E ninguém nos tira da cabeça o carácter
proposital da crise…     
Duas medidas
fundamentais Paul Krugman defende para acabar com a Crise: emissão de moeda e investimento público. Afinal as mesmas que o Presidente
Franklin Delano Roosevelt adotou, na sequência da Grande Depressão, visando o reaquecimento
da Economia Real e a redução do desemprego, que se havia tornado numa chaga
social. Curiosa a noticia recentemente divulgada de que o FED vai rodar a
rotativa para lançar no mercado mais umas boas pazadas de dólares… O BCE
continua a este respeito com hesitações… Veja-se os casos da Espanha e da
Itália. Primeiro têm que formalizar um Pedido de Resgate e só depois recebem o
dinheirinho… Ou seja, não haverá pão de milho para ninguém sem sujeição
política… E viva o Euro!
A raiz dos
nossos problemas reside de facto na insuficiência de oferta monetária, criada desde
a adesão ao Euro. Estando o Estado Português inibido de emitir moeda própria,
só pode financiar-se, através de empréstimos sob a forma de Títulos de Dívida
Pública, ou, como agora, através de um Resgate Financeiro sob o patrocínio da
Troika, o que implica sujeição política e económica, com os desdobramentos
sociais gravosos que estamos a viver.
Devido sobretudo
à perda de Capital Fixo e à Corrupção instalada, a Economia Portuguesa não
consegue produzir suficientes recursos, nem os produzirá enquanto se prosseguir
numa Austeridade que promove Recessão. O País, a continuar neste empobrecimento
deliberado, vai carecer cada vez mais de financiamento externo, inclusive para
pagar juros vencidos, como já acontece.
Por outro lado,
a continuada falta de dinheiro no bolso do cidadão reduz o consumo. A falta de
procura expectável leva os operadores económicos a reduzir a produção. As
empresas são então obrigadas a reduzir ou mesmo encerrar a sua atividade com o
consequente despedimento de pessoal. O desemprego por sua vez aumenta a despesa
pública na componente social e gera simultaneamente uma perda de receitas sobre
os rendimentos do Trabalho e do Capital. Até o IVA é afetado… Em consequência,
as perdas financeiras e sociais entrelaçam-se e interagem numa espiral
recessiva crescente… Para inverter este processo destrutivo, torna-se
indispensável uma rutura com o Sistema que as produziu…
Parece-nos pois
que está na hora de se rever a questão da Moeda, sem complexos e sem medos, e
dar um basta no Agiotismo dos “Mercados Financeiros”, capitaneados pela Troika.
Portugal precisa de readquirir a sua Autonomia Financeira, sem a qual não
haverá Crescimento Económico e sem este, não é possível honrar a Dívida
Soberana. Venha um Governo que tenha a coragem de o fazer. O Povo na rua, no
passado dia 15 de Setembro, deu o sinal… De que estão à espera?
Artur Rosa
Teixeira
(artur.teixeira1946@gmail.pt)
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